domingo, 8 de janeiro de 2012

" A morte é esquecer"


  O pior medo  do ser humano depois da morte, é o esquecimento. Vez e outra me esqueço de coisas pequenas, como certos telefones, ou onde guardei certo objeto. Mesmo sendo coisas tão ínfimas, ficamos desconcertados, revoltados, da maneira  com que conseguimos esquecer tão facilmente. Por isso quando se bebe, e várias vezes se esquece de certos momentos da bebedeira, é como se não tivesse acontecido, e mesmo que lhe façam lembrar através de palavras, fica impossível acreditar que realmente aconteceu, já que não está guardado na memória, e isso assusta qualquer um.
   Não lembrar é frustante, a necessidade de lembrar é essencial a qualquer ser pensante que possui alguma memória. É como se lhe furasse os olhos, e por alguns segundos ficasse cego, a dor dos olhos furados remete à impotência de lembrar, porém quando finalmente se lembra, tudo fica claro e nítido outra vez, e assim você já consegue enxergar novamente. Uma constante tortura, enquanto se está no esquecimento há agonia, porém quando recorda, o alivio vem a tona e tudo torna se mais belo. Esse movimento de cair no esquecimento e recordar é algo constante, como se fosse um jogo jogado por nós mesmo dentro da nossa cabeça.
  Porém cair no esquecimento é extremamente confuso, difuso, é treva, os gregos prezavam pela memória, cantavam poesias a todos de cidade em cidade, e assim eram passadas as histórias de grandes feitos, nada escrito, tudo dito e "redito". A capacidade de lembrar é grande, e se formos para e refletir, veremos que todo e qualquer conhecimento é assimilado através da memória, primeiro lê se, depois pensa se sobre, e finalmente  há o entendimento da dita leitura. Tudo isso fica retido na memória, e só através dela é possível repassar o que foi "conhecido".
  A memória é uma grande ferramente, sem ela nada seríamos, absolutamente nada, apenas seres vagantes sem qualquer história de vida. E não ter uma história para contar, não ter o que lembrar, nem que sejam paisagens e figuras quaisquer, fica difícil seguir em frente. Porque a memória representa a nossa identidade, o que somos, e o que carregamos conosco, quais foram nossos erros e acertos, e assim aprendendo a lidar com a inconstância da vida. Relembrar é aconchego,é como voltar apara casa depois de anos e anos vagando, voltar ao "conhecido" , ao lar.
  E mais assustador que a morte, ou tanto quanto é esquecer. Esquecer quem fui, o que vivi, o que fiz, é não ser, é a não existência, é viver como um vegetal, sem vida, apesar de respirar. É como uma droga que te consome por inteiro, esperando  a morte chegar para acabar com o que já estava morto há muito tempo.
  Meu nome é Sophi, tenho 23 anos vividos, gosto de suco de laranja, possuo um amigo inseparável chamado Fred, gosto de ouvir Nina Simone e Juliete Greco, porque parece que volto no tempo. Tudo isso é uma parte de mim, e esquecer isso, é como se não fosse mais eu mesma, mas um fantasma perdido no vazio do esquecimento. Não menosprezes tua memória, exercite-a , faça-a ser forte e reinante, porque o pior de tudo é sentir falta daquilo que já possuíste.
  Creio ser o esquecimento um prelúdio para a morte, a morte é o nada, estando na morte não é necessário a memória, apenas morre se, e ponto. A morte é algo temível, porém sabe se que depois dela nada resta.Porém viver no esquecimento é tortura eterna, é estar vivo e não viver, tendo a consciência de que continuará vivo apesar de tudo, é um sofrer constante. E mesmo querendo relutar contra o fato, há o desejo ardente pela morte, porque viver sofrendo por uma coisa que nem se quer se lembra, é mais temível e tortuoso que a própria ideia de estar morto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário