segunda-feira, 12 de março de 2012

A dádiva da imaginação


Dentro da minha cabeça, perdida entre pensamentos, já fui a dezenas de lugares, beijei bocas desconhecidas, casei, tive filhos, briguei, apaziguei. Conquistei homens importantes, desfrutei da vida em lugares paradisíacos, fiz tudo que sempre desejei fazer. Já morri inúmeras vezes, discuti por terceiros, embriaguei -me, falhei. Lancei-me em grandes viagens, muitas foram, tantas que se levaria uma eternidade para contá-las. Conheci povos antigos, fui imperatriz, escutei a doce melodia de Beethoven, bebi com Modigliani. Falei línguas, do russo ao finlandês, tive amores incontáveis, avassaladores, como nos romances, conheci Drummond. Envelheci, e vi que a vida é realmente surpreendente. Estudei filosofia, fui historiadora, até teóloga , a Grécia foi meu segundo lar. Perguntei a Platão pra que tanta confusão? Apaixonei -me pela França, morri de amores pela Itália, fui feliz. Como chorei , como amei, como... Emocione -me, desfrutei da riqueza, senti a pobreza por todo o meu corpo, gritei. Fui baronesa, uma princesinha, até magnata, enlouqueci. Vivenciei tantas coisas dentro de mim, pareceu ser tudo suficientemente gostoso, mesmo sem sentir o gosto. Gostei de ser o que não pude ser. Num estalo desperto, "é aqui que eu desço moço, obrigada".

3 comentários:

  1. Ainda bem que desceu antes que todas essas personagens fizessem um motim contra a matriz!

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  2. Inevitavelmente, pensei em minhas divagações nas janelas, e no corredor do ônibus – porque às vezes as janelas são inatingíveis. E a viagem, interminável.
    Às vezes me pergunto se morri e não me dei conta. Vai ver desci enquanto o ônibus ainda estava em movimento.

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  3. curti meus preciosos comentarios. monique fez uma versao melhor do meu texto em algumas linhas, e dan foi sarcastico mais do que eu poderia ser. obrigada gatinhos

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